Em meio a investigações do FBI sobre os escândalos envolvendo a Fifa e a uma tentativa de acordo pelo departamento de Justiça dos EUA, Ricardo Teixeira tem ainda se acostumado a viver dias diferentes daqueles que teve durante 23 anos.
Quando o ex-presidente da CBF ainda tinha poder, uma de suas diversões era passar as tardes de chuva pescando em sua fazenda em Barra do Piraí, interior do Rio. Era assim, trajando capa de chuva, vara e copo de cachaça em mãos, que ele passava as tardes de folga.
Passados três anos da renúncia, o homem que foi solitário no maior cargo do futebol brasileiro, deu lugar a um ex-mandatário também isolado, mas agora sem os prestígios e status que tinha naquele tempo. Desde o tempo que morou nos EUA até agora. É o que contam pessoas próximas a ele, ouvidas pela reportagem.
Aos jornalistas que se aproximam, Teixeira oferece uma isca: contar um dia o que sabe. "Ele tem oferecido este troféu a jornalistas com os quais mantêm contato. Promete que, quando resolver falar, dará a imprensa o furo mundial", diz um conhecido.
No outono vivido por Ricardo, nem a família floresce. De acordo com pessoas próximas, ele só vê regularmente a filha mais nova, Antonia. "É a única que visita o pai. E só quando vem de férias ao Brasil", conta outro amigo.
Os três filhos do primeiro casamento pouco veem o pai. A separação da segunda mulher, Ana, foi o gatilho que fez ruir o pilar emocional familiar do ex-dirigente.
"A Ana era uma variável fixa que ele não esperava perder".
Entre uns e outros dias sozinho, uma visita. Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, e alguns presidentes de federações estiveram por lá recentemente, depois de José Maria Marin ser preso na Suíça.
Mas até isso tem sido diferente. Eventos como esse eram tradicionalmente regados a bebida alcoólica, assim como seus dias de pesca, mas nem isso lhe restou.
"O diabetes tirou dele a cerveja e a carne de sol, que era o que ele gostava de comer. Seus rituais eram à mesa". Assolado pelo ritual médico das sessões de hemodiálise, conforme disse à "Folha de S.Paulo", os encontros sociais têm sido cada vez mais raros.
No ambiente do poder, alguns amigos o cercavam com mais intimidade, como Andrés. Dois outros não tem contato há algum tempo. Um é Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona e parceiro de negócios do qual se afastou ainda antes da chegada do FBI.
Outro é J. Hawilla, dono da Traffic, delator nas investigações americanas. "Deste ele não esperava. Foi o golpe que faltava", narra um conhecido.
Com poucos amigos, o homem que no poder não carregava nem a própria pasta, hoje passa a maior parte do tempo lendo jornais em sua residência em Itanhangá, na Barra da Tijuca, na zona oeste. Melancólico, as visitas à fazenda em Piraí são cada vez mais raras.
"Passa a maior parte do dia lendo sobre política, o que sempre gostou", relata uma pessoa que esteve com ele recentemente.
O dono das decisões no futebol durante 23 anos, hoje restringe suas viagens internacionais a objetivos e roteiros muito menos suntuosos. Por ter transferido sua cidadania tributária para o Uruguai, tem o compromisso de não passar mais de seis meses no Brasil.
Rotina diferente da que tinha pouco tempo atrás, mesmo depois de sair da CBF, no fim do ano de 2014, quando esteve em Las Vegas, com Andrés e o ex-diretor financeiro da entidade máxima do futebol brasileiro, Antônio Osório.
"Se ele ficar mais tempo que 6 meses aqui, tem problemas com a Receita".
Dos pilares de sustentação, Teixeira mantém somente o dinheiro. Ao transferir sua cidadania tributária para o Uruguai, acredita ter feito o necessário para manter a segurança do patrimônio.
"A corretora americana fica furiosa quando algum comprador tentar baixar o preço da casa que está vendendo em Miami alegando a operação do FBI".
E é para lá que Teixeira quer ir. Com bens nos Brasil, Estados Unidos e Uruguai, o ex-presidente da CBF tenta agora transferir-se para os Estados Unidos, consciente de que um acordo com o FBI será seu caminho mais racional.
"Se precisa cortar as duas pernas, tenha certeza que ele fará".
Como mostrou nesta segunda-feira o ESPN.com.br, Ricardo foi procurado pela Justiça dos EUA para fazer um acordo de delação premiada. Suas exigências, no entanto, travaram a negociação, até o momento.
0 comentários:
Postar um comentário